Feira de Santana na Bahia,
recentemente elevada à categoria de metrópole pela LCE 35/2011, município com
mais de 600 mil habitantes, recebedora de milhares de pessoas dos municípios do
seu entornos, da Bahia, do Brasil e até de outros lugares do mundo, ganhará um
sistema de transporte chamado BRT. BRT é a sigla para Bus Rapid Transit (Transporte de Ônibus Rápidos),
sistema que utiliza vias/corredores exclusivos e estas geralmente ocupam os
canteiros centrais das avenidas preservando assim as últimas. Consiste em
plataforma com bilheterias para comprar os bilhetes (provavelmente únicos) e em
questão de poucos minutos o ônibus chegará nestes terminais e levará seus
passageiros aos seus possíveis destinos de forma muito mais rápida. Realmente é
um excelente ganho. No entanto, existem problemas em relação ao BRT apresentado
em Feira de Santana:
a) Derrubada de mais de 100
árvores do canteiro central da Avenida Getúlio Vargas no Centro;
b) Sistema que em vez de usar o
já em funcionamento SIT (Sistema Integrado de Transportes), acaba se
contrapondo ao mesmo;
c) Terminais só nas avenidas João
Durval e Getúlio Vargas privilegiando bairros e empreendimentos situados no
trajeto;
d) As pessoas que moram em bairro
periféricos, isto é, mais afastados do centro continuarão a passar pelas mesmas
dificuldades, pois não serão contemplados em seus anseios que na verdade é do
de todos: fluidez, preço, acessibilidade, comodidade e segurança.
No último dia 28/11/14 foi
realizada uma Audiência Pública no auditório da Associação Comercial e
Empresarial de Feira de Santana (ACEFS) sobre o BRT em Feira. A discussão se
pautou nas possíveis consequências e na viabilidade quanto à realidade local
bem como se o mesmo atenderá ao município e a Região Metropolitana de Feira de
Santana. Professores, radialistas, jornalistas, engenheiros, Profissionais de
vários segmentos, representantes comerciais, de movimentos sociais como o
Movimento Água é Vida, Sindicato dos Camelôs e Artesanato do município, dos
Bombeiros, Promotoria do Ministério Público, Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Urbano (SEDUR), AGERBA, Caixa Econômica Federal, Deputados,
Vereadores do município, pessoas dos diversos bairros e até aqueles que
passavam na frente da ACEFS marcaram presença e sentiram de perto a discussão
acalorada não só pela mesa como pelos questionadores no final da Audiência
Pública. Foram colocados como entraves no projeto do BRT apresentado pela
Prefeitura:
a) Destruição das pistas de
Cooper (as calçadas do canteiro central) e das árvores da Av. Getúlio Vargas;
b) Não integração da cidade com a
recém-criada Região Metropolitana de Feira de Santana (RMFSA);
c) Em vez de unir, acaba por se
contrapor ao SIT.
Infelizmente, a situação que já é
ruim na verdade é bem pior. Sem um Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) desde
novembro de 1992 – deve ser elaborado via Audiências Públicas a cada 10 anos –
de acordo com o que pede o Estatuto das Cidades (Lei 10257/01), o BRT acaba por
ser feito ao que chamamos “toque de caixa”, ou seja, sem planejar a cidade como
um todo e assim não prevendo a cidade no futuro como é a função do PDDU e para
isso que ele deve ser elaborado e atualizado de 10 em 10 anos. O Plano Diretor
funciona como uma bússola, orienta e indica os passos a seguir com plena
viabilidade pensando no ambiente urbano como um todo.
Posto assim, foi apresentado pelo
engenheiro civil Danilo Ferreira um projeto de BRT que foi denominado de BRT
Contorno. Este nome advém da ideia de que as estações (terminais) de BRT
estejam praticamente em todo anel de Contorno, a Avenida Eduardo Fróes da Mota.
A justificativa é pelo fato de que este anel foi à referência de crescimento
interno e externo de Feira de Santana ou para dentro e para fora da cidade e
este pode enfim pensar mais nos municípios de entorno da RMFSA, nos distritos
de Feira, bairros periféricos a fim de ligá-los ao centro da cidade utilizando
as linhas do BRS, sigla para Bus
Rapid Service (Ônibus Rápido
de Serviço) que alimentariam este BRT em direção aos bairros da cidade. Os
BRS’s são pensados para proporcionar uma sensação de conforto, permitindo o
aumento da velocidade média necessária sem destruir o meio ambiente.
Outro fato é que o BRT Contorno
obrigaria rapidez na iniciada duplicação do Anel de Contorno e acabaria por
solucionar o impasse quanto à destruição de mais de 100 árvores que em média
tem mais de 30 anos de existência e que ajudam no processo de
evapotranspiração: Quando a chuva cai, as gotas d’água pousam nas cópulas das
árvores e estas servem como depósitos. Quando os raios solares incidem sobre as
mesmas, a água ali depositada volta para o ar, deixando-o mais úmido. Apesar de
parecer pouco, todavia ajuda na própria pluviometria (chuva) e na sensação de
refrescancia. Por chover pouco, a cidade acaba sofrendo com o calor. As árvores
também funcionam como guarda-chuvas, protegendo-nos das radiações solares e nos
fazendo sentir uma sensação maior de frescor e conforto ambiental. Uma das
alternativas do governo municipal referente ao (re) plantio de árvores são as
árvores exóticas, isto é, árvores que não são compatíveis ao local, seu solo,
sua região e sua cultura. Dificilmente se vê árvores endêmicas – árvores
exclusivas e encontradas facilmente em um local - do Bioma Caatinga como
mandacaru e barrigudas.
O Portal Voz de Feira em uma
matéria relata que a autorização para a licitação do BRT
vai acontecer na próxima quinta-feira (04/12). Rogério Gutemberg, representante
do Sindicato dos Camelôs de Feira de Santana relatou que no mesmo dia da
Audiência Pública (28) uma reunião com o sindicato e outros participantes no
Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães definiu o dia 09/12 como o dia de se
mobilizar contra o BRT proposto pela prefeitura. Se o Voz de Feira estiver
correto, é fundamental o adiantamento deste ato público.
Este é o contexto sobre o BRT feirense.
É necessário discussão e resolução de equívocos que existem há mais de 20 anos.
A população feirense deve estar a par desta situação e do que representa um
sistema de transporte em sua cidade. É de obrigação do governo municipal
convocar a população e promover audiências públicas com os diversos segmentos
sociais. Sem fazer nada é que não pode. Realizar sozinhos é que não dá. BRT
Feira: precisamos, mas não desse jeito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário